domingo, 18 de agosto de 2013

Eu vi um menino na rua

                    Hoje eu vi um menino na rua e isso mexeu comigo. Ele e um amigo cheiravam cola, meu coração apertou, um ano atrás eu não vi nenhum usuário de droga, nenhum mendigo além de idosos ou mutiladas.
                    O Camboja que eu conheci um ano atrás ainda se chama Kamputia, mas não se parece nenhum pouco com o que estou vendo agora.
                    O menino da rua devia ter seus 10 anos mais ou menos, ele não me disse nada, mas me ensinou muito. Tenho sido egoísta. Tenho pensado apenas em mim mesma. Dói saber que estou aqui a quase dois meses e não tirei uma criança da rua.
                   Não sou mãe, mas meu coração materno chora pela vida que está lá fora deitada no chão duro, na sujeira a espera de alguém pra dar alguns trocados pra que ele possa comprar mais droga ou um lanchinho.
                   Há uma vida lá fora que chora e grita, que sente uma dor que eu não conheço, mas que quero curar e não sei como. Existe um pedaço de gente jogado no chão com o coração estraçalhado e despedaçado que ninguém vê.
                   É uma criança que não brinca, não corre, não dança, não pula, mas que chora. Eu quero chorar junto, meu coração quebrado, estraçalhado por uma vida que não faço ideia a quem pertence, mas que desejo conhecer.
                  Quero sentar no chão, pedir noodle para nós dois e comer com ele, mesmo sem pronunciar uma palavra, quero que meus atos falem o que minha boca não consegue e assim passar a noite nessa intensa conversa que está tão gostosa que faz o tempo parar, a dor ir embora e a alegria fluir.

                  Doeu e ainda dói. Não sei se um dia a imagem desse garoto vai sair da minha cabeça, se algum dia vai parar de doer. Parece que ele ainda está na minha frente com suas mãozinhas na cabeça correndo para o outro lado da rua e pondo a cabeça no chão e batendo nela. Quase corri para socorrê-lo, mas meus pés estavam amarrados ao chão com cordas invisíveis. Ele sentia dor, eu sabia que era dor porque era isso que a imagem me transmitia. Será que ele chorava? Será que ele gritava? Eu não sei, eu estava muito longe para ouvir, mas perto demais para sentir que ele precisava de mim.

                  Dói muito não ter ido lá, sinto como se tivesse visto uma vida ser tirada com minhas próprias mãos.
                  Dói muito não ter o abraçado, não ter dito “está tudo bem, eu estou aqui” mesmo que em português, isso acalmaria meu coração. 

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